Quantas vidas poderiam ser poupadas se mais pessoas dedicassem algumas horas por ano à própria saúde? A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que, todos os anos, cerca de 18 milhões de pessoas com menos de 70 anos morrem em todo o mundo em decorrência de doenças crônicas não transmissíveis, como infarto, acidente vascular cerebral (AVC), câncer, diabetes e enfermidades respiratórias — muitas delas evitáveis ou passíveis de diagnóstico precoce.
No Brasil, as chamadas mortes evitáveis ainda representam um desafio. Embora os índices tenham caído nas últimas décadas, doenças cardiovasculares e cânceres avançados continuam entre as principais causas de óbito entre adultos e idosos. Para especialistas, medidas simples — como aferir a pressão arterial, analisar os níveis de colesterol e glicemia, ou realizar exames como mamografia e colonoscopia — podem significar a diferença entre um tratamento precoce e a luta contra doenças em estágio irreversível.
É nesse contexto que o check-up anual se revela mais do que uma rotina médica: trata-se de uma estratégia essencial para transformar números frios em histórias reais de longevidade e qualidade de vida.
Check-up: mais do que um exame, uma abordagem preventiva
Um check-up de saúde consiste em um conjunto de exames clínicos e laboratoriais voltados à prevenção. Personalizado conforme idade, sexo e histórico médico, ele abrange consultas com diferentes profissionais de saúde, avaliação física e mental, além de orientações sobre estilo de vida.
“Esse tipo de cuidado permite identificar doenças ainda em fases iniciais, quando as chances de tratamento eficaz e cura são muito maiores”, afirma o cardiologista Vinícius Oro Popp, coordenador do serviço de Check-up do Hospital São Marcelino Champagnat, em Curitiba (PR).
Entre as condições que podem ser detectadas precocemente estão alterações metabólicas, como diabetes e colesterol elevado. Também é possível rastrear diversos tipos de câncer — como os de mama, cólon, colo do útero, próstata e pulmão — conforme o perfil de risco de cada paciente.
Do diagnóstico precoce à saúde integral
Com um check-up, é possível identificar problemas nas artérias, como aneurisma de aorta abdominal, e, em casos selecionados, avaliar o risco de doença coronariana, que ainda é a principal causa de morte no mundo”, explica o cardiologista.
Já o especialista em clínica médica do Hospital São Marcelino Champagnat, Ricardo Gullit Ribeiro, também destaca a importância de monitorar a função renal: exames simples de sangue e urina podem revelar sinais de falência dos rins antes mesmo do surgimento dos sintomas. Além disso, ele reforça que o diagnóstico precoce de infecções sexualmente transmissíveis — como HIV e sífilis — pode alterar completamente o prognóstico e melhorar significativamente a qualidade de vida dos pacientes.
Prevenção individualizada: um plano para cada fase da vida
As recomendações preventivas variam conforme o sexo e a etapa da vida. “Homens, por exemplo, apresentam maior risco cardiovascular em idade mais precoce. Em média, os infartos ocorrem dez anos antes neles do que nas mulheres”, explica Popp.
Entre as mulheres, exames como mamografia e papanicolau já demonstraram impacto significativo na redução da mortalidade e da incidência de cânceres, especialmente quando realizados de forma adequada e com cobertura ampla. Após a menopausa, cresce também a preocupação com a osteoporose, o que muitas vezes exige avaliação óssea.
No caso dos homens, o rastreamento do câncer de próstata deve ser debatido individualmente, considerando histórico familiar e fatores de risco. “O exame de PSA e o toque retal não são indicados de forma universal, mas podem ser essenciais em alguns casos”, orienta Ribeiro. Ele também recomenda o rastreamento de aneurisma de aorta abdominal, especialmente em homens entre 65 e 75 anos que já tenham fumado: “um ultrassom simples pode salvar vidas”.
O essencial: um plano de cuidado contínuo
Independentemente do sexo, há recomendações que valem para todos: controle da pressão arterial, colesterol, glicemia e peso, atenção à saúde mental, testagens regulares para infecções sexualmente transmissíveis e vacinação em dia. “O mais importante é que cada pessoa tenha um plano preventivo ajustado ao seu perfil, histórico familiar e estilo de vida. Essa é a base de um check-up inteligente”, afirma Popp.
Estilo de vida: o maior aliado da saúde
Por fim, o cardiologista destaca que nenhum exame substitui os benefícios de um estilo de vida saudável. Alimentação equilibrada, atividade física regular, controle do estresse e qualidade nos relacionamentos têm impacto direto e comprovado na saúde. “Hoje já há evidências robustas de que vínculos sociais fortes e uma boa rede de apoio são fatores tão protetores quanto manter a glicemia ou o colesterol sob controle”, conclui.